Chegou o momento de África pensar em como fazer reformas para alcançar o desenvolvimento sustentável, considera a antiga Primeira-ministra, Luísa Diogo. No seu entender, o continente já sabe o que fazer, mas precisa aproveitar, da melhor forma, os seus recursos diversos para colocar em prática as suas ideias. Para o caso de Moçambique, Diogo aponta os principais pontos a ter em conta: combate à corrupção; respeito às leis; celeridade das decisões; o saber servir o cidadão; participação e inclusão do cidadão no processo de investimentos e das políticas de desenvolvimento. “Tudo isso faz com que Moçambique, se fizer bem e continuar a melhorar, venha a ser o elemento muito catalisador no processo de desenvolvimento de África porque catalisa a si próprio primeiro. Não somos nós que dizemos que somos catalisadores, são os outros, ao verem como nós fazemos e nos usam como exemplo nos seus trabalhos”, explica Diogo. INTEGRAÇÃO REGIONAL A ex-governante moçambicana entende que a “conexão africana é fundamental para a integração regional”. Por isso, sugere que o continente aposte nas infra-estruturas, recursos humanos, comércio, saúde, juventude, formação e criação de postos de trabalho. Para Diogo, só haverá integração regional em África se os países conseguirem comercializar produtos e competir entre si. “É a competição entre nós que cria apetência para maior competitividade e melhor produtividade, maior nível de produção, redução dos preços e melhoramento da qualidade. Então, a questão das infra-estruturas é fundamental”, explica. Na área dos recursos humanos, a ex-governante diz que é necessário criar capacidade institucional que tem a ver com a educação das pessoas para resolver os problemas e não para criar problemas. Luísa Diogo fala na qualidade de interveniente do Fórum Mozefo. “Nós devemos criar uma massa que resolve os problemas do país e não uma massa crítica que critica e não traz soluções. Então, em plataformas como Mozefo, nós temos que ter essa possibilidade de captar grandes soluções para podermos avançar. O saber fazer é fundamental para África poder prosseguir e criar postos de trabalho”, defende Luísa Diogo. Fala ainda da importância do comércio no continente porque ajuda a comparar quem está a produzir mais rápido e melhor. “Aquele que está a produzir mais rápido e com qualidade tem mais possibilidade de vender porque a produzir mais rápido, o custo é mais baixo”, defende. Sem saúde, a pessoa não pode avançar. Luísa Diogo explica que é o nível da saúde da população que mostra o desenvolvimento de um país. “Nós podemos ter grandes infra-estruturas, Produto Interno Bruto grande, PIB per capita grande, Rendimento Nacional grande, mas olhamos para os nossos hospitais, olhamos como as nossas pessoas são tratadas: é ali onde avaliamos se estamos bem ou não. Tudo isso para produzir resultado é necessário que haja boa governação, que é a preparação de bons planos”, diz a antiga Primeira-ministra. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Luísa Diogo defende ainda que Moçambique precisa ter coragem para se tornar uma referência mundial em desenvolvimento sustentável. Falando no âmbito do Fórum Mozefo, a ter lugar nos próximos dias 20 e 21 de Novembro, a antiga governante moçambicana detalhou a grande transformação que Moçambique precisa para alcançar tal objectivo. “Nós temos é que ter coragem de dizer que queremos ir pela qualidade, queremos ir pela relevância, queremos ir pela competitividade e não queremos ir pela gestão administrativa da qualidade. A qualidade é aquela, é aquela”, frisou Diogo. A ex-ministra sugere que Moçambique aproveite o potencial que possui em termos de recursos humanos. Dá exemplo de moçambicanos que possuem padrões mundiais de qualidade profissional e recomenda, por isso, que haja coragem de abertura às novas ideias. “Eu, agora que saí do Estado e estou no sector privado, me apercebi que tinha uma visão muito restrita do potencial do talento moçambicano. O talento moçambicano é grande, firme e confortável a nível mundial. Os moçambicanos, lá fora, quando concorrem do ponto de vista de qualidade, nas empresas, nas instituições, as empresas não os querem largar”, considera. Para chegar aos objectivos almejados de desenvolvimento, Diogo sugere que haja persistência. “A nossa opção é persistir e persistir significa renovar as nossas ideias, renovar os nossos programas, renovar as nossas agendas”, sublinha a antiga Primeira-ministra. AMBIENTE DE NEGÓCIOS Luísa Diogo chama atenção para a necessidade de transformação das instituições como forma de melhorar o ambiente de negócios no país, ou seja, para melhorar “a temperatura da relação entre o agente do Estado ou a instituição pública com o sector privado”. Acrescenta que quando o investidor se apresenta perante o agente do Estado, ele deve sentir, à partida, se é bem-vindo ou não naquela conversa. “MOZEFO É UM FÓRUM CONSISTENTE” Luísa Diogo classifica o Fórum Mozefo como uma plataforma de debate consistente por tratar de temas actuais, como por exemplo, juventude, conhecimento, agricultura, energia e turismo que se desenvolvem ao longo do tempo, fazendo a ponte entre os grandes fóruns. “Nunca perderia a oportunidade de continuar a colaborar com o Mozefo na qualidade de interveniente nas sessões porque é um fórum consistente que tem temáticas extremamente importantes para o desenvolvimento do país”, frisa Diogo. Fonte: O País