A beleza do pequeno paraíso chamado Inhambane deixa qualquer um encantado. Mas desde Fevereiro deste ano, o cenário que se vive em toda província de Inhambane é terrível. Não há ninguém na recepção das estâncias turísticas, mas também não há ninguém para receber. As autoridades de turismo previam receber pouco mais de 16 mil turistas nas férias da Pascoa, mas a pandemia da COVID-19 veio deitar abaixo todas as espectativas e logo que a doença começou a alastrar-se, os cancelamentos de reservas começaram a chegar. Anselmo Mapanzene é gestor de uma estância turística em Vilankulo e contou ao “O Pais” que com os cancelamento, a empresa foi forçada a fechar as portas e dispensar a mão de obra. Relativamente a massa laboral, a empresa celebrou acordos amigáveis com os trabalhadores, que consiste no não pagamento integral dos salários e para compensar, todos os trabalhadores terão direito por 2 meses de uma cesta básica, para ajudar na alimentação das famílias dos trabalhadores. Pior que não receber o dinheiro previsto, é ter de devolver o pouco que entrou, uma vez que com o cancelamento das reservas as estâncias hoteleiras tinham de fazer o reembolso do valor pago pelas reservas. Há quem tentou remarcar para outras datas, mas grande parte dos turristas pediu o dinheiro de volta. Edson dos Santo é uma destas pessoas que vive apenas do turismo, a empresa em que trabalha fechou as portas e foi forçado a ficar em casa. Em toda província de Inhambane são pouco mais de 1400 pessoas que estão em casa, pelo facto das estâncias hoteleiras terem fechado as portas. Destes, pelo menos 200 já foram demitidos e não sabem como será o seu futuro. Em apenas 1 mês, Edson diz que a situação com a sua família ficou insuportável e teve de se virar para conseguir pôr o pão na mesa. Uma das saídas encontradas por ele foi comprar peixe com os pescadores e revender, mas porque há muito peixe em Vilankulo, Edson teve de encarar outro desafio e mandar a sua mercadoria para vender nos mercados de fora de Inhambane. Mesmo sem hóspedes por receber, o grande calcanhar de Aquiles são para já, os custos operacionais. Ângela Vidal é gestora de um hotel em Vilankulo cujas despesas com corrente eléctrica chegam aos 300 mil meticais por mês, adicionado ao custo com agua, gás e empregados, este ultimo que consome maior parte do bolo dos custos operacionais. Alias, em relação aos trabalhadores, Ângela disse ao ”O Pais” que a empresa teve de dispensar mais da metade dos 80 trabalhadores e neste momento funciona com apenas 40, que ainda assim, não recebem o salario na integra “acordamos com os nossos trabalhadores e neste momento, todos os que estão a trabalhar estão a receber apenas o salario mínimo, para garantir que eles tenham um mínimo para sobreviver” disse Ângela Vidal. Mas, não são só os trabalhadores das estâncias turísticas os únicos afectados. Os tradicionais moto-táxis que levam os turistas para os mais diversos lugares, hoje passam grande parte do dia parados. Salimo é um operador de Moto-taxi e lembra com nostalgia os tempos em que conseguia ter uma renda de mais de 1500 meticais, mas hoje, sem turistas na melhor das hipóteses, o que consegue são 500 meticais por dia. Até os pescadores, que trazem a iguarias a mesa dos turísticos, sente no bolso ausência de turistas nas praias de Vilankulo, uma vez que baixou também a procura por mariscos baixou, numa altura em que do mar, sai muito peixe. Rui Mazivila é pescador e diz que com a pouca procura, estes são forçados a baixar o preço do marisco. Alias, muitas vezes quem marca o preço é o comprador, que assim decide apenas em seu benefício, prejudicando ainda mais o pescador. Nelio Domingos é guia turístico e tinha a missão de entreter os hóspedes. Mas há pelo menos 2 meses que já não vai as dunas e outros lugares para onde levava turistas a passeio e hoje a sua rotina passa por ficar em casa. Em Inhambane são cerca de 130 estâncias turísticas que fecharam as portas, mas algumas mantem-se abertas, porem a funcionar a meio gás, deixando em casa pouco mais de 1400 trabalhadores. O Presidente da Associacao de Turismo de Vilankulo Yassin Amuji diz que a situação vai de mal a pior e defende com urgência, medidas estruturantes por parte do governo. Uma delas tem que ver com a redução dos custos operacionais das empresas, tal como a energia, agua e gás. Yassin, diz que o alivio destas contas vai permitir que as empresas continuem a pagar salários, colocando assim dinheiro no bolso do cidadão, e este por sua vez, terá o poder de compra, mantendo a economia em funcionamento. O turismo é o principal motor da economia de Inhambane, tendo injectado mais de 24 bilhões de meticais nos cofres do estado e é responsável pelo sustento de mais de 10 mil famílias. Fonte: Opaís