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Jaime Rufino, 56 anos, e Horácio Menezes, 50 anos,

“Nhonguistas” e a difícil arte de vender e alugar imóveis

Jaime Rufino, 56 anos, e Horácio Menezes, 50 anos, trabalham como intermediários no sector imobiliário em Maputo, e negoceiam no mercado informal, há quase quatro décadas. Conhecedores de cada artéria da “Cidade das Acácias”, eles são chamados popularmente de “nhonguistas”. Nesta edição, a Mozbusiness traça a radiografia do ‘modus operandi’ deste negócio. “O termo ‘nhonguista’ surgiu no mercado Estrela Vermelha e refere-se ao processo de intermediação na compra, arrendamento de residências, lojas ou de qualquer outro negócio”, começou por explicar Jaime Rufino, acrescentando que “também significa sanguessuga. Alguém que tudo quer”. “Mas não somos ladrões nem desonestos”, clarificou Horácio Menezes. Ambos trabalham na área da Imobiliária de forma informal e possuem uma larga experiência do mercado na cidade de Maputo.   Desde a inoperância da APIE Há 25 anos como corrector imobiliário informal, Rufino aprendeu o ofício com a sua mãe. Sob o olhar impávido da Administração do Parque Imobiliário do Estado (APIE), a actividade de mediação imobiliária informal tem evoluído em Moçambique a olhos vistos. Com a nacionalização dos imóveis de rendimento em 1976, o Governo criou a APIE. Como uma unidade gestora de imóveis, a APIE celebrava os contratos de arrendamento, cobrava as rendas, garantia a manutenção dos imóveis e assumia as despesas dos espaços comuns (guardas, elevadores, limpeza, etc). “Fazemos o trabalho que devia ser feito pela APIE, servindo também ao sector privado, e aos poucos fomos desenvolvendo”, disse Rufino. Há 10 anos na actividade, Horácio é natural de Sofala. Quando chegou a Maputo, dedicou-se à venda de roupa e bijuterias. Anos depois, a convite do seu irmão, passou a trabalhar como um agente imobiliário. Hoje, ele não tem dúvidas. “É possível viver em Maputo como nhonguista”, disse Horácio, para quem “sempre há esperança de que ir-se-á fechar um negócio rentável”. À semelhança de Horácio, Rufino explica que o negócio é rentável. Mas acrescenta um elemento essencial: “deve haver honestidade de todas as partes envolvidas, tais como o senhorio, nós comissionistas e quem procura o imóvel”. “E pagamos impostos porque não há negócio que façamos sem chancelar o contrato”, revela o comissionista, quando questionado sobre as suas obrigações para com o Estado. “Só numa ou outra ocasião é que os contratos são amigáveis e verbais”, clarificou.   Como o negócio funciona  A celebração do contrato de mediação imobiliária (verbal ou escrito) é o primeiro passo. Horácio explica que nunca começa o processo de procura de um imóvel sem um acordo para evitar dissabores. Em Moçambique, a mediação ou intermediação imobiliária é feita pela prestação de um serviço pago pelo senhorio, o qual assina um contrato ou estabelece um acordo verbal, cujo objectivo se cinge à promoção de um imóvel para venda ou arrendamento. Nos casos em que há um contrato verbal, o pagamento é efectuado apenas quando o arrendatário efectua a transacção de pelo menos dois meses ao senhorio, sendo que um é canalizado ao(s) nhonguista(s) ou intermediários. Quando se trata de venda de imóveis, em que os valores são considerados avultados, o serviço é pago tendo em conta o celebrado no acto do Contrato-Promessa de Compra e Venda ou na Escritura. “Nesses casos, envolvemos advogados e a polícia, quando notamos qualquer sinal de que algo não vai bem”, conta Horácio, defendendo que “a ganância de algumas pessoas tem minado o negócio”. “O intermediário faz um grande trabalho, visto que une o cliente e o proprietário da casa e ainda ganha pouco”, diz a fonte, explicando por que razão o intermediário deve ser valorizado. “Se houver algum problema com o negócio, quem fica a arcar com as consequências é o intermediário, que se vê metido numa situação complicada”.   Humilhações e burlas De aparência humilde e padrão de vida modesto, eles relatam vários cenários de humilhações. “As humilhações têm sido recorrentes”, disse Horácio, explicando que há “senhorias que quando recebem o dinheiro começam a pensar que o cliente chegou sozinho”. “Nos casos em que os proprietários das residências não aceitam dar o devido valor, nós deixamos o negócio decorrer para não prejudicar o cliente ou aceitamos o que o dono da casa estiver disposto a dar”, contou Rufino. Cansados desses cenários, eles passaram a aliar-se a agências imobiliárias oficiais. “Procuramos os imóveis e entregámo-los às agências, porque precisamos envolver advogados para auxiliar no processo com a análise da documentação e dos requisitos legais, como forma de evitar burlas porque os intermediários é que pagam por serem de fácil acesso”. Mas nem tudo era assim. No início, antes de tomar as devidas precauções, o Horácio foi parar a um posto policial indiciado de burla. “Houve um colega que se passou por proprietário de uma casa e eu acabei sendo culpado”, começou por explicar, informando que, dias depois, o caso foi resolvido e ele solto. “Tive de ligar para o meu amigo que sabia de tudo e solucionamos os problemas, visto que ele apresentou pistas que permitiram capturar o burlador, que na época estava no bairro da Liberdade, na Matola”.

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